Não há escapatória: a tecnologia e os dispositivos digitais estão presentes em praticamente todos os aspectos da nossa vida, inclusive nas escolas.
Ela propicia inúmeros benefícios, mas, junto deles, nos deparamos com desafios que devem ser superados. Inclusive, com preocupações sobre saúde mental e o bem-estar dos estudantes.
Que tal refletirmos sobre esse tema? Continue a leitura e conheça o conceito de bem-estar digital nas escolas, sua importância, e dicas de como implementar na sua instituição. Além disso, entenda as discussões atuais sobre a proibição do uso de celular em escolas brasileiras.
O que é?
O termo “bem-estar digital” vem do inglês “digital wellbeing”. Ele aborda o uso equilibrado da tecnologia, promovendo a saúde mental, emocional e física, enquanto evita o uso excessivo de dispositivos digitais.
Criado em 2012 por Tristan Harris, um ex-gerente de produtos da Google, o conceito surgiu de sua preocupação com as distrações tecnológicas em sua vida.
Naquela época, Harris escreveu um memorando que se tornou um marco no debate sobre a atenção do usuário e os efeitos da tecnologia, causando transformações importantes na empresa onde ele atuava, e em diversas outras.
Hoje, essa preocupação se estende além das companhias de tecnologia, sendo fundamental em nossa sociedade, especialmente nas escolas.
Qual a relação entre tecnologia e saúde mental?
A relação entre tecnologia e saúde mental é complexa e apresenta tanto aspectos positivos quanto negativos.
É claro que temos benefícios: as ferramentas digitais oferecem acesso a informações e recursos de saúde mental e facilitam conexões interpessoais.
Por outro lado, o uso inadequado ou excessivo pode levar a problemas como ansiedade, insônia e depressão, especialmente entre os jovens.
Como exemplos dessa dualidade, temos os resultados do relatório “O bem-estar das crianças em um mundo digital” feito pela organização Internet Matters em 2024. O estudo revelou que:
- 65% das crianças entrevistadas relatam que passar tempo online as faz mais felizes;
- 67% delas também afirmaram ter sofrido algum tipo de dano no ambiente digital.
Isso destaca a necessidade de uma abordagem equilibrada em relação à tecnologia para maximizar seus benefícios, e minimizar os impactos negativos. Isso é válido na vida profissional, pessoal, e também na educação.
Por que adotar tecnologia nas escolas?
É inegável que, em pleno século XXI, a tecnologia é uma aliada poderosa na educação.
Ela possibilita o acesso a conteúdos inovadores, personalização do ensino e conexão entre alunos e professores. Além disso, a tecnologia pode facilitar a inclusão de estudantes, oferecendo recursos adaptados às especificidades e necessidades de cada aluno, incluindo aqueles com deficiência.
No entanto, sua adoção deve ser acompanhada por práticas que priorizem o bem-estar digital nas escolas, abrangendo todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
Quais os malefícios e desafios a serem superados?
O uso inadequado da tecnologia nos ambientes escolares podem levar a uma série de problemas, como:
- Distrações em demasia;
- Excesso de tempo de tela;
- Exposição a conteúdos inadequados;
- Cyberbullying, entre outros.
Além disso, a capacitação dos educadores também se mostra um desafio.
Eles são fundamentais para integrar a tecnologia de maneira equilibrada dentro da sala de aula, mas muitos ainda podem se sentir despreparados para lidar com ferramentas digitais, ou com as consequências do uso exagerado de dispositivos.
O uso de celular vai ser proibido nas escolas brasileiras?
Em outubro de 2024, o debate sobre o uso de celulares em escolas brasileiras ganhou força com a aprovação do Projeto de Lei (PL) 104/2015 pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.
O texto propõe proibir o uso de aparelhos eletrônicos portáteis (como celulares e tablets) por alunos da educação básica em instituições de ensino públicas e privadas – inclusive nos intervalos entre aulas e nos recreios.
De acordo com o texto, o porte dos aparelhos eletrônicos no ambiente escolar será permitido apenas para estudantes dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio.
Antes de ser votada no Congresso Nacional, a proposta segue para análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), dentro da Câmara dos Deputados.
Entenda o projeto
Em linhas gerais, vamos entender alguns pontos centrais do PL que está em discussão:
- Objetivo: reduzir distrações e impactos negativos no aprendizado, melhorar a interação social e prevenir problemas como nomofobia (dependência do celular).
- Exceções: uso pedagógico, autorizado por professores; adaptações para alunos com deficiências ou condições médicas, como monitoramento de saúde (ex.: medição de glicemia em diabéticos).
- Educação digital: as escolas deverão educar alunos sobre os riscos do uso excessivo de telas e conteúdos impróprios, incluindo treinamentos para professores identificarem sinais de sofrimento psíquico associado ao uso de celulares.
Divergência de opiniões
De acordo com uma pesquisa do Datafolha, 65% dos pais entrevistados apoiam o banimento do uso de celulares nas escolas. Além disso, 78% acham que o dispositivo eletrônico acarreta mais prejuízos do que benefícios ao aprendizado dos estudantes.
Em contrapartida, visões desfavoráveis ao projeto o enxergam como uma abordagem rígida e que não considera o papel dos dispositivos na educação moderna e nas relações sociais dos jovens.
Entre opiniões contrárias e favoráveis, o debate reflete a complexidade de integrar a tecnologia na educação e como equilibrar seus benefícios e desafios em contextos escolares. Agora, vamos entender possíveis formas de implementar o bem-estar digital nas instituições.
Como implementar práticas de bem-estar digital nas escolas?
Para além do debate sobre proibir ou permitir o uso de eletrônicos, para fomentar o bem-estar digital no ambiente escolar, algumas práticas podem ser adotadas. O objetivo é trazer benefícios para estudantes, professores e para o processo de aprendizagem como um todo.
Veja alguns exemplos de medidas que podem ser tomadas:
1. Educação digital consciente
Ensinar os alunos sobre o uso responsável da tecnologia é essencial. Isso inclui discutir os efeitos negativos do uso excessivo e a importância da privacidade online.
Além disso, incentivar o autocuidado e o uso crítico da tecnologia são partes essenciais desse processo.
2. Regras claras para o uso dos dispositivos
Estabelecer regras claras sobre o uso da tecnologia em sala de aula ajuda a garantir que ela seja uma ferramenta de aprendizado e não uma fonte de distração.
Essas regras devem ser discutidas de forma colaborativa com os alunos, envolvendo-os no processo de criação e implementação.
3. Pausas planejadas e atividades offline
Incorporar intervalos regulares durante o dia escolar permite que os alunos se desconectem das telas e participem de atividades físicas ou relaxantes.
Alguns exemplos de atividades que podem ser incorporadas são:
- Atividades físicas como a prática de esportes;
- Jogos ao ar livre;
- Meditações;
- Leitura de livros físicos;
- Atividades musicais.
Recomendamos dar preferência para atividades que incentivem a interação social e o desenvolvimento de inteligência emocional entre os alunos.
4. Capacitação de professores e pais
Capacitar educadores para reconhecer sinais de problemas relacionados ao uso excessivo da tecnologia é crucial.
Isso inclui reconhecer sintomas de dependência digital, como isolamento social, ansiedade e dificuldades de concentração.
Além disso, conscientizar os pais sobre seu papel no controle do tempo de tela dos filhos também é muito importante. Afinal, eles desempenham o papel crucial no monitoramento e segurança dos filhos.
E é com a colaboração entre escola e família que é possível criar um ambiente mais seguro e saudável para o desenvolvimento digital dos alunos.
- Leia também: Entenda o que é gamificação e como aplicar!
5. Monitoramento e suporte psicológico
É muito importante que as escolas ofereçam apoio psicológico para ajudar os alunos com questões relacionadas à saúde mental, relacionadas ou não com tecnologia.
Além disso, programas de conscientização podem incentivar os estudantes a buscar ajuda quando necessário.
Qual a importância do bem-estar digital nas escolas?
Como podemos perceber, o bem-estar digital nas escolas deve ir além da estratégia de controle do uso de dispositivos tecnológicos.
Afinal, esse conceito e prática contempla um aspecto essencial do desenvolvimento dos alunos.
Ao promover um equilíbrio digital, as escolas ajudam os estudantes a entender como a tecnologia afeta suas vidas diárias, seu desempenho escolar, e suas relações interpessoais.
Nesse sentido, ao implementar práticas de bem-estar digital, as instituições educacionais oferecem aos alunos as ferramentas necessárias para navegar os terrenos dos mundos real e digital de maneira saudável e responsável e crítica.
Para saber mais sobre como a tecnologia pode beneficiar o bem-estar dos alunos e criar um ambiente escolar inclusivo, confira também nosso guia sobre diversidade e inclusão na escola!
Foto do post: Divulgação/Tomaz Costa/Agência Brasil
Authors
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Mineira, jornalista e analista de conteúdo com 6+ anos de experiência em Educação, Tecnologia e Finanças. Apaixonada por criar histórias que conectam. Amante de literatura e idiomas, sempre buscando novas descobertas e conexões.
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Jornalista formada pela UFMG, se interessa por temas como educação, ciência, tecnologia, e sociedade. Participou de reportagens premiadas pelo Sebrae em 2023, pela CDL/BH em 2021 e 2022, e pela Rede de Rádios Universitárias do Brasil em 2020.